Livraria Cultura

23.5.12

A elitização dos estádios

Na última segunda-feira, o jornalista Alberto Helena Junior deu sua opinião favorável à elitização dos estádios e de que a massa deve ver pela televisão. Isso tudo em favor de um 'espetáculo'. 

Mesmo contrariado por outros jornalistas, Alberto continuou com sua ideia de venda de ingressos para grandes empresas. Leia mais sobre a discussão.

A origem do futebol no Brasil se deu quando estrangeiros trouxeram o esporte e equipamentos de fora (trazidos por Charles Miller) com times exclusivamente de brancos. Aos poucos foram surgindo times de operários e negros e alguns negros foram aceitos naqueles primeiros times - na época, alguns até usavam pó de arroz para melhorar a aceitação em alguns times e diminuir o preconceito. A evolução e democratização do esporte, seja racial ou social, é uma vitória para o Brasil e encontramos no futebol um dos entretenimentos mais democráticos em termos de misturas de classes, crenças, cores, origens, etc. O estádio é onde o rico e o pobre se encontram, seja ele evangélico, judeu ou ateu, branco, mulato ou índio. Felizmente, mulheres e crianças, apesar de ter, ainda em números menores, crescem nos estádios. Mas depois de uma conquista dessas, focar em um 'espetáculo' onde o intuito é somente tornar o esporte um artigo de luxo para poucos, como se fosse o cirque du soleil, é ir contra um dos maiores valores do futebol no Brasil. Será que vale a pena focar tanto nos valores do futebol europeu ou valorizar o que temos de mais bonito e de mais coração no esporte brasileiro?

Muitos enxergam o futebol como o 'pão e o circo' romano, mas sabemos que tem uma importância social  e educativa muito maior e característica brasileira. O futebol se torna, cada vez mais, comercial, mas não deve tornar-se totalmente assim. O quanto não se perdeu com as vendas e jogadores por valores exorbitantes onde o amor à camisa deixou de existir? Hoje, o amor à camisa é o amor à camisa que paga mais. 

Os estádios tem condições de serem reformados e proporcionarem espaços confortáveis, para ricos e pobres, garantindo segurança e maior lucro. Mas tirar o pobre do estádio é um desrespeito e falta de gratidão de clubes que sempre encheram seus bolsos com o dinheiro do pobre que sempre foi ao estádios, com times bons ou ruins, com chances de vitória ou não, em grandes multidões, enfrentando chuva ou vento e estádios sem segurança alguma.

Vale a pena investir em assentos caros? Claro! É necessário para que o estádio se sustente, mas tirar o torcedor real dos times e colocá-los em frente a TV, isso é uma afronta à sociedade e à história do esporte no Brasil.

Quem quiser ler mais sobre a história e estabilização do futebol no país, recomendo este livro:

3 comentários:

  1. De fato, a elitização total dos estádios não é a solução, mas eu fico irritado quando veja as pessoas não aceitarem que os ingressos irão ficar mais caros depois da copa. Afinal, estamos construindo estádios de qualidade, com conforto sem igual e diversas melhorias e não se aceita pagar por isso? Alguém terá de bancar isso tudo, o público irá ficar mais restrito mesmo, mas agora até os ricos aceitarão ir para uma arquibancada sabendo que poderão ao menos usar o banheiro, mas, óbvio, o grande público não pode ser menosprezado por isso.

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    1. Acho que tem que ter um equilíbrio. De fato são melhorias e para mantê-las tem que vir renda de algum lugar. Uma solução é achar eventos, atividades paralelas que potencializem o uso e a entrada de verba, coisa que geralmente os estádios brasileiros não tem - e não vale falar que é um estádio multifuncional nem que terá convenções, etc., tem que especificar, definir quais, em quais datas, quais podem ser trazidos para o país, quais podem ser criados, de preferência sem tirar evento de outros lugares que também dependem deles. Nenhum estádio sobrevive de bilheteria, então o aumento do ingresso não vai chegar a cobrir despesas, pois está muito longe do que é necessário. Acontece que aumentando o bilhete, o estádio não lota. Dá pra ver já atualmente na frequencia dos jogos, não é sempre cheio como antigamente. As vezes vale mais vender 30.000 ingressos a R$10,00 que 5.000 a R$60,00. Mais gente usufruirá do jogo, mais gente impulsionará a partida, mais gente poderá consumir dentro do estádio, gerando renda indireta, mais gente participará do fato sem discriminar ninguém.

      Aumentar um pouco ingresso pode até ser tolerável, mas vai ter benefício simbólico na sustentabilidade financeira do mesmo. Mas poderá pesar para boa parte da população que vive com um salário mínimo vergonhoso.

      O grande problema é que poucos são os interessados em correr atrás de usos reais para os estádios, tentar enxergar o que a região precisa para promover espaços adequados e que realmente tragam uso diário no equipamento. É aí que está a solução. O estádio pode ser sustentado por outras atividades sem aumento algum na bilheteria e sem a limpeza de pobres que, como pudemos ver, tem gente que apoia.

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    2. Concordo integralmente com sua colocação.

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