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23.5.12

Programa 'A Liga': Itaquerão

Um programa do qual gosto muito, 'A liga', da Band, mostrou nesta última terça (22) várias facetas da região de Itaquera voltando o foco principal para as interferências da construção do estádio Itaquerão, que será sede da Copa do Mundo 2014.

Entre informações importantíssimas sobre a desapropriação de barracos de algumas comunidades bem próximas ao estádio, salientaram a forma como a Prefeitura de São Paulo tenta passar por cima da dignidade e direitos humanos através de bolsa aluguel de míseros R$300,00. Contou com a participação da urbanista Raquel Rolnik que tem representado muito bem esta questão perante a ONU, buscando respeito e direitos aos cidadãos que podem ser afetados com a Copa - sem dúvida, a principal ideia do programa foi passada através dela. Vale também mencionar a importância da parte onde mostra o movimento do metrô. Felizmente nossos horários de jogo não são os de pico no metrô. No entanto, com a Copa, não acredito que a Zona Leste seja liberada do trabalho para poder aliviar o metrô, portanto, se coincidirem os horários, o metrô pode ficar mais tenso que o mostrado no vídeo, estendendo-se para muitas outras estações.

No entanto, várias distorções ao longo do programa, o fizeram cair na questão credibilidade. Quem assistiu o programa pode notar em vários momentos uma ideia de que o vilão é o Corinthians, como se o clube estivesse consumindo o dinheiro público. Mencionou-se até 500 milhões de investimento público, como se o estádio fosse fruto do gasto da prefeitura. O estádio é financiado, ou seja, o clube deverá, em parcelas e com juros, pagar cada centavo gasto na sua construção. O incentivo ficasl, por outro lado, pode, sim, ser questionado. Há a isenção de impostos, o que não é implementação de renda pública, mas a inexistência de arrecadação - e isso é mais comum do que se pode imaginar. Há inúmeras áreas onde a Prefeitura tem interesse em desenvolver. Para isso, a Prefeitura incentiva o investimento, livrando as empresas, construtoras, institutos, indústrias ou residências de IPTU, por exemplo, para que haja mais interesse das empresas privadas. Isso ocorre até entre estados: a Arisco saiu de São Paulo e foi para o nordeste pois tinha isenção de impostos, assim como muitas outras indústrias. Quem preserva patrimônio histórico, na minha cidade (Atibaia-SP), ganha isenção do IPTU proporcional à manutenção atual da edificação. Ou seja, é prática comum e legal da prefeitura em desenvolver áreas passíveis de intervenção. Desta forma, o poder privado livra o poder público (parcialmente) de alguns investimentos ou faz com que seja mais fácil investir em uma região.

O que mais pode ser questionado é o valor que a prefeitura vai investir em arquibancadas removíveis, que usará como artifício para conseguir a abertura do evento. Mas, para São Paulo conseguir a atenção gigantesca com a abertura da copa, a Prefeitura vai investir um valor (que realmente não sei se é o real informado no programa - 70 milhões) e que, sem dúvida, voltará em diversas formas para a população (comerciantes, para o transporte, hotéis, etc.) e que, conseguiria em menor número se tivesse jogos, mas sem a abertura. Novamente, é o mínimo que a prefeitura pode fazer, buscar o melhor retorno para a cidade, ou alguém consegue ver alguma forma da prefeitura lucrar ao fazer arquibancadas desmontáveis?

Além disso, há uma incoerência entre o tom falado no programa (parte 4 aos 3:43) e o infográfico abaixo (que consta no site do programa). No vídeo pareciam 500 milhões absurdos investidos e nenhum centavo para ajudar a população, já na imagem abaixo, 'o lado bom'.

*Imagem do site do programa 'A liga' de 22/05/2012

Além disso, investimentos em transporte público, em facilidades viárias, iluminação pública, segurança, sinalização é um investimento para muita gente, ou seja, para a população, principalmente para frequentadores e habitantes da zona leste em geral, não só de Itaquera. 
*Lembrando que em momento algum acho correto usar isso como desculpa para o despejo de família.


E ainda saliento que é um caso completamente diferente ao de Cuiabá, onde, neste último, as arquibancadas serão removíveis porque querem um estádio mínimo depois da copa, como se ela nunca tivesse passado por lá. São casos diferentes e motivos diferentes para serem removíveis.

Quem vai sofrer com a Copa são os que sofrerão com a desapropriação de suas casas ou barracos, mas todo o resto da população reconhece o quanto Itaquera evoluirá com o evento. Agora, colocar a Sophia Reis (parte 5 do programa), com seu ar de rebelde de elite e petulância, ironizando funcionários públicos, interrompendo a explicação de outro para cantar parabéns é, no mínimo, uma falta de respeito. Não é porque a população é tratada como palhaça, que deve-se fazer circo nas ocasiões de reivindicação - que foi o que ela fomentou com primor no programa. Educação pode funcionar. 

Quanto à Prefeitura, esta deveria, no mínimo, ter feito uma reunião de apresentação do projeto com os possíveis moradores que deverão ser afetados pela avenida nova, debatido e com propostas razoáveis com moradias próximas e de qualidade para estas famílias.

Este post foi escrito por ver que muita gente se deixou influenciar por um tom parcial e, em certos pontos, ignorante durante um programa que deveria ter investigado dados e tomado mais cuidados com sua postura e palavras. Os vídeos podem ser vistos no site do programa.


Textos que podem interessar relacionados ao assunto:

Habitação x Copa do Mundo e Olimpíadas - sobre o posicionamento da Raquel Rolnik nesta causa
Valores das arquibancadas desmontáveis segundo o portal da copa 2014, clique aqui.

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