Livraria Cultura

21.6.12

Jan Gehls e o ponto de vista da escala humana

Assisti ontem a palestra do arquiteto dinamarquês, Jan Gehls, chamada "Cidades para pessoas". Uma palestra excelente e que pretende mostrar como olhar o urbanismo de um ponto de vista diferente do comum, dá mais vida, mais qualidade e diminui o caos do transporte sem pressão radical sob a população, ela se adequa ao que tem.

A idéia não deixa de ser uma espécie de urbanismo lento (pág 5 para quem clicar no link), ou de slow food. Ambos prezam a qualidade de vida menos acelerada, menos dependente de fast foods, carros velozes e dias corridos.

Segundo Gehls, há muito tempo os planejadores viários tem sido bons em trabalhar com o lema 'fazer os carros felizes' e perderam o senso de boas cidades para as pessoas.Gehls acredita que com o esgotamento das fontes de petróleo no mundo estamos prestes a mudar nossos paradigmas e que, em breve, deveremos todos mudar para outro tipo de transporte. Por este motivo devemos acreditar em um urbanismo feito para ser observado e frequentado na velocidade do pedestre e do ciclista, algo em torno de 5km/h.

Jan Gehl tem projetos implantados em diversas capitais com tráfego tão ruim ou pior ao de São Paulo e todas com bons resultados, crescimento da saúde, do número de ciclistas, de pedestres e com diminuição do uso do carro para uso diário (trabalho).

Forma de transporte ao trabalho em Conpenhagen, hoje:

37% bicicletas
27% carros
33% transporte público
5% pedestres

Conpenhagem também registra uma diminuição no número de estacionamento de 2 a 3% por ano.

Sobre a capital brasileira, que será também sede da copa, o arquiteto mencionou que é linda do céu, da vista aérea de avião ou helicóptero, mas que o pedestre foi esquecido no momento em que Lúcio Costa e Niemeyer pensaram Brasília. E, realmente, é uma cidade onde  tudo é distante, onde não há uma vida diária em todos os espaços.




Na Dinamarca, um velho bairro que eles chamam de 'potato rows' (fileiras de batatas - como nas plantações) são horríveis na vista aérea, mas lindos e de melhor qualidade na cidade do ponto de vista do usuário (eyelevel) tendo frequentação diária, participação, movimento, companhia, lazer, interação, etc. Com pessoas se exercitando mais do que o normal hoje em dia. 

 Acima, vistas aéreas do bairro dinamarquês.
Acima e abaixo, equipamentos que dão vida junto ao paisagismo ao bairro que de cima, parece feito e nada interessante.


Jan  Gehls defende que as ciclovias devam ser usadas todos os dias, não só aos domingos  - como se faz em São Paulo -, para isso, a cidade deve ser convidativa. Uma cidade que substitui 1 faixa de carro por mais uma de ciclovia, aumenta 5 vezes mais bicicletas do que se fosse feito com carros. A iniciativa deve ser trabalhada junto a oiutras idéias, como o pedágio urbano, que restringe o uso do centro ou de outras regiões interessantes na cidade a partir do momento em que toca no bolso do cidadão - e ele se acostuma com isso e acha outras alternativas, mais saudáveis e menos caóticas. Da noite para o dia, é passível de mudança.

Brasil e a Copa

No caso do Brasil, vemos a política e governo direcionando o urbanismo para outro caminho como, por exemplo, na recente construção de novas faixas na marginal, que já estão saturadas - bilhões de reais jogados fora - um shopping também na marginal que inaugura amanhã sem ter concluído o acesso à ciclovia, e também na construção de túneis, como o da água espraiada (Roberto Marinho), também de uso exclusivo de automóveis. Enquanto isso, pouco se faz no sentido contrário. Em 3 anos, uma iniciativa privada incentiva o uso da bicicleta, com 3000 bikes para aluguel ao final desse prazo. É uma quantidade ridícula visto o que o governo faz contra. 

Uma iniciativa para suavizar o caos também pode ser trabalhar a diminuição da demanda por transporte. Isso significa, promover mais empregos, lazer, cultura, escolas em vários bairros, para que muita gente não tenha a necessidade de procurar isso em outros bairros. Ficaria mais fácil aí, garantir o direito de ir e vir. 

No entanto, a Copa do Mundo está chegando e pouca coisa está sendo feito segundo as idéias do arquiteto. Cabe a cada um de nós, cobrar iniciativas mais corretas, criticar, entrar em contato, registrar, participar de alguma forma, por qualquer canal público dando sugestões ou fazendo críticas, de preferência, antes que tudo seja feito, enquanto ainda saem as notícias. Por isso é interessante que população se mantenha atenta às noticias.

E se, em São Paulo, tirassem uma faixa da Radial Leste para ciclofaixa, todos os dias da semana? Parece difícil de aceitar vendo o trânsito, mas é a forma mais plausível e mais fácil de fazer as pessoas abrirem mãos de seus carros. O governo ainda libera o IPI, com puro interesse político em vender, manter o mercado, sem pensar nos problemas urbanos que vem com as más idéias de desespero.

Quantas vias, túneis e pontes estão fazendo para a copa nas diversas cidades-sede?  Inclusive passando por direitos humanos, desalojando famílias. Não só não enxergam o pedestre, como ainda o destroem.

Agenda:

"Um novo modelo de cidade: prosperidade, equidade e sustentabilidade"

Para dia 25, às 16h, na r. boa vista, 170 - SP, haverá um outro seminário que tratará de urbanismo, mas desta vez com Joan Clos, ex-prefeito de Barcelona, e com debate de Carlos Leite (meu ex-professor) e autor do livro cidades sustentáveis, cidades inteligentes.
Inscrição www.aulasaopaulo.sp.gov.br
transmissão simultânea pelo site.


4 comentários:

  1. Adorei essa ideia. omo brasiliense eu não podia concordar mais com relação a isso, para se ter uma ideia, as praças ao redor da cidade são inutilizadas, pois para chegar a elas é necessário ir de carro e encontrar um buraco para estacionar o carro, algo ridículo. O pior é pensar que os arquitetos daqui recusam de qualquer forma qualquer mudança no projeto original, o mundo mudou e a cidade não, o que é uma lástima.

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    1. De repente nem precisa mudar o projeto e plano da cidade, mas mudar o sistema viário, integrar, complementar e isso q ele falou, de aumentar o uso das bicicletas, integrar e facilitar o transporte delas por metrô, etc.

      Sobre brasília ainda, Lucas, dê uma olhada no estádio mané garrincha q analisei saiu hoje a coluna e tem algumas novidades lá: http://www.universidadedofutebol.com.br/Colunas/2012/06/3,11856,CIDADE-SEDE+BRASILIA.aspx

      Obrigada pela visita e pelo comentário!

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  2. Nossa, adorei a coluna sobre o estádio, ainda mais aquela parte do paisagismo, não fazia nem ideia de como iria ser. O problema da integração dos transportes é que eles podem acabar atrapalhando o plano urbanístico, como o VLT, que criou a maior confusão na Asa Sul. Já as bicicletas são um problema por tudo ser exatamente distante, o que faz os percursos sob o sol daqui nada convidativo.

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    1. Haha, é verdade. O sol daí é complicado e isso se complica mais ainda em ninguem conseguir tomar uma ducha e se manter apresentável. É muita coisa que tem que ser feita em muitos sentidos.

      Sobre o paisagismo é legal, sim. Vi em uma palestra e peguei a apresentação, até demonstra que setor tem o tipo de espécie de planta a ser colocada. Se eu conseguir uma boa resolução, posto aqui no blog, mas tava meio difícil de ver, por isso que coloquei só a implantação. Mas o benedito abbud é mto bom como profissional, acho que vai ser um paisagismo legal

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