Livraria Cultura

25.11.11

Arq Futuro: Masterclass Lelé e Herzog (resumo) + Allianz Arena

Felizmente, pude ver um enorme público universitário na Masterclass realizada pelo Arq futuro, o que indica grande interesse em arquitetura de qualidade. O evento foi realizado no belíssimo auditório do Ibirapuera. No entanto, infelizmente, por esse motivo, as palestras foram mais direcionadas a estes estudantes, o que é bom. No entanto, o mediador do evento selecionou somente perguntas de estudantes, e, por incrível que pareça, mal leu as perguntas disponíveis e selecionou aleatoriamente perguntas que não tinham nada a ver com as palestras, muito menos mostravam conhecimento sobre as obras dos arquitetos em questão. 

Teve até mesmo pergunta-pérola e direcionada a Lelé: "Porque você não usa telhados verdes para refrescar os ambientes?". Para quem não conhece a arquitetura de Lelé (e, principalmente, para quem não prestou atenção em sua apresentação no dia), ela se resume (desculpem-me por resumir uma arquitetura tão complexa) em uma arquitetura que privilegia coberturas que maximizem a ventilação natural, através dos fluxos de ventos, diminuindo a necessidade de ar-condicionado. Isso diminui a contaminação hospitalar (no qual Lelé se destacou muito), e reduz consumos. Além disso com seus telhados, executados e elaborados com primor, a iluminação natural é aproveitada. Também dá destaque à mobilidade e acessibilidade à todos os ambientes. Portanto, qualquer pessoa com um mínimo de conhecimento, sabe que a sua arquitetura é muito melhor que meros telhados verdes, que somente refrescam o ambiente e é nítido, imagino que seja nítdo, que com sheds (abaixo) seja impossível usar os telhados verdes ao mesmo tempo, ou estúpido trocá-los por telhados verdes. Acho que todas as dúvidas devem ser esclarecidas, mas desde que a pergunta tenha sido feita com o mínimo de atenção. A pergunta desmereceu o trabalho do arquiteto e a apresentação também.



Como o tempo era o futuro e a arquitetura, e a menção da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos tinha sido feita no site oficial e nas chamadas para o evento através dos vídeos, imaginei que o assunto  fosse tocado durante a palestra, principalmente porque Jaques Herzog já fez estádios para ambos os eventos: Allianz Arena para a Copa de 2006, na Alemenha, e o Ninho do Pássaro, em Beijing, na China para as Olimpíadas de 2008. No entanto, isso não aconteceu.

A palestra foi mais sobre como se tornar profissional, em estudar e se preparar constantemente, mesmo depois de formado. A grande ênfase que Lelé deu foi sobre a universidade incentivar, de fato, o profissionalismo do arquiteto, que deve ser generalista, sem se especificar e que deve conhecer muito a produção industrial. Foram palestras muito boas, mas completamente fora do que eu esperava.

Faltou mais espaço para Herzog, quase todas as perguntas escolhidas foram feitas para Lelé, perdendo uma grande oportunidade, já que o Lelé conhecemos melhor, poderiam ser feitas perguntas para ambos e não somente ao Lelé.

A frase do dia, no entanto, foi de Herzog - na minha opinião:

"A arqutietura tem que criar surpresas, momentos únicos."

Isso se traduz até mesmo na arquitetura de Herzog e De Meuron, como eu já mostrei. aqui pelo blog Seus estádios tem espaços únicos, que tornam os restaurantes, as coberturas, etc, em espaços que o público querem visitar, criam essa identidade do projeto, que se reverte em marcos arquitetônicos que fomentam o turismo. Abaixo algumas fotos do bar-lounge-cafe do allianz arena onde o teto é memorável e onde a fachada participa muito do ambiente interno:

 Acima, foto do site oficial do Allianz Arena
 Acima e abaixo, fotos do flickr de N/K/

  Acima, foto do flickr de daveybot - mostrando o teto* do ambiente
 Acima, foto do flickr de N/K/

Esse assunto já foi tocado no seguinte post deste blog:

Para o próximo Arq Futuro, programado para o primeiro semestre de 2012, espero somente que escolham um mediador das perguntas mais preparado e com mais bom senso.

*O background deste blog é o acabamento do teto deste restaurante do Allianz Arena

Dimensões de campos de futebol

A partir de um comentário feito ontem  no post Marcações do campo de futebol, resolvi colocar aqui algumas dimensões possíveis para campos de futebol, já que muitas pessoas tem dúvidas na hora de projetar e também na hora de marcar.

- Marcações de campos oficiais, orientação da FIFA - válido para jogos internacionais e nacionais:



Clique nas imagens para vê-las ampliadas.

- Dimensões conforme a Federação Paulista de Futebol Society:





Fontes:
Federação Paulista de Futebol 7 (Society)
Football Stadiums Technical Recommendations And Requirements

Sobre curiosidades/irregularidades em campos de futebol em análise do Inmetro, clique aqui.

22.11.11

Agenda 23-11: Arq futuro - Masterclass: Lelé e Herzog

Amanhã, no auditório do Parque do Ibirapuera, em São Paulo acontecerá o Arq Futuro, com a Masterclass de Lelé e Herzog (do escritório Herzog & de Meuron, responsáveis pelo Allianz Arena, em München, Alemanha, e pelo Ninho do pássaro, Beijing, China). 

Para quem não conhece, Lelé (João Figueiras Lima) é um tremendo arquiteto brasileiro, com projetos hospitalares de extrema importância e aconselho que conheçam mais sobre seu trabalho referencial, principalmente, para os estudantes, que ainda estão em formação de caráter profissional, já que o arquiteto em questão passa muitos valores em seus projetos. Para quem tem muito interesse em ventilação, acessibilidade e iluminação adequada junto à qualidade de vida, aconselho a análise de seus projetos.


Acima, projeto de Lelé para o Hospital Rede Sarah, RJ. Leia mais sobre o projeto.

Já Herzog é responsável por um de meus preferidos escritórios internacionais. Elaboram projetos certeiros e precisos tecnicamente, sempre com formas marcantes e tecnologia de ponta. Os dois projetos de estádios que mencionei são dois que eu não me canso de citar, devido à versatilidade, técnicas e materiais escolhidos.

O evento será transmitido online a partir das 9h30 em ponto (segundo a organização) e quem tiver interesse pode se inscrever por um valor baixo (comparando a todos os eventos de arquitetura, e considerando os dois grandes arquitetos) de R$40,00 para profissionais e R$20,00 para estudantes. Consultem se ainda tem vagas disponíveis. O auditório é grande, mas muitos convites foram dados e o interesse é gigante, portanto, consultem o quanto antes.

Veja mais informações no site oficial do Arq. Futuro.

Abaixo um dos vídeos do Arq Futuro onda Karen Stein, Editora e Consultora, fala sobre a importância e diferença da arquitetura e arquitetura de qualidade para a Copa 2014 e olimpíadas 2016, e a importância para os estudantes.


21.11.11

Bao' an Stadium: estádio de bambu

A simbologia está presente sempre nas melhores arquiteturas. Geralmente a simbologia vem com o intuito de conscientizar ou valorizar a cultura e/ou a natureza da região. Para a Copa, a principal simbologia é a da arena de Manaus (abaixo) que faz referência às cestas da região. 


Na China, a simbologia está presente sempre. O próprio Estádio Olímpico de Beijing (acima) é mais conhecido como o ninho do pássaro. Este ano, para os Jogos universitários, a china preparou estádios que se destacaram bastante e o Bao'an Stadium é um deles. 



Ele remete à vasta floresta de bambu ao sul da China através de duas fileiras de colunas inclinadas em aço que sustentam sua cobertura. "Mas e o bambu, Silvio?" Me surpreendi com todas as chamadas que mencionavam a referência, mas mal falavam do elemento. A referência a ele, homenagem, não é o mais forte a ser considerado, mas o que podemos encontrar de fato a favor do bambu e do estádio. A planta tem alta produtividade e baixo gasto de energia na produção de mobiliário. Para garantir a sustentabilidade, os acabamentos internos são feitos em bambu. Pena que a única foto que encontro sobre a divulgação do estádio é essa abaixo. Mas o bambu está ali presente. 


O Brasil tem uma boa opção de acabamento pensando da mesma forma. A arquitetura com bambu ganha espaços aos poucos no país e poderia ganhar mais atenção se ao menos um de nossos estádios recebesse acabamentos deste material para a Copa 2014. Serviria facilmente para várias áreas de um estádio. Sua resistência é boa além dos fatores ecológicos, garantindo boa durabilidade. No país, a construção em bambu não tem destaque algum nas universidades. Para conseguir conhecimentos, os arquitetos tem que buscar cursos extras. Com acabamentos em bambu, poderíamos criar elementos até mais significantes que estes da foto acima, podendo sim, criar uma identidade ao estádio, com valor ecológico unido.

 Mosaico em bambu
 Acima, aeroporto de Barajas, Madrid, Espanha
Acima, alma de bambu. Três imagens do uso de bambu com estética interessante 


Voltando ao Bao'an: sua fachada é totalmente permeável, sem barreiras, o que garante alguns benefícios em ventilação e dificuldades em casos de chuva ou insolação excessiva, por exemplo. No entanto, a parte onde estão os pilares, sem vedação lateral são de circulação, os principais compartimentos do estádios estão logo abaixo da plataforma que o circunda (veja nas imagens e corte abaixo). Já a cobertura é feita em membrana, em gomos, sustentada por cabos tensionados e sustentada por um anel interno e um externo- técnica frequentemente utilizada pelo escritório responsável pelo projeto, a GMP architeckten (autor da cobertura do estádio Commertzbank Arena e Olímpico e Berlin, no mesmo sistema, e consultor para o estádio de brasília, manaus e também belo horizonte).




Outro ponto interessante da arquitetura é o formato de sua cobertura. Ela é um círculo perfeito, no entanto sua arquibancada é oval, mantendo a qualidade (pela distância) dos assentos nas laterais do campo e reduzindo o número de assentos na parte atrás dos gols, oscilando a altura da arquibancada (veja no corte, acima, e na planta, abaixo).


Capacidade: 40.000

18.11.11

Agenda: dia 30 - Road Show São Paulo

A cidade com o maior caos no trânsito recebe desta vez o Road Show, evento de seminários e debates sobre assuntos da Copa 2014, realizado pelo Portal da Copa 2014 + Sinaenco e que passou já por várias cidades sede.

Horário: das 13h às 18:30h no hotel Maksoud Plaza, SP

Abaixo a descrição do evento, cuja inscrição é gratuita e pode ser feita pelo site oficial, clicando aqui.


"A 3 anos do Mundial de 2014 no Brasil, o Sinaenco e o Portal 2014 realizam série de seminários para acompanhar os preparativos de cada cidade-sede para esse megaevento. 

O Road Show já passou por Recife, Manaus, Curitiba, Porto Alegre, Salvador, Belo Horizonte, Fortaleza, Natal, Cuiabá, Brasília e Rio de Janeiro, e agora é a vez doSão Paulo debater o atual estágio dos projetos e obras de infraestrutura que farão com que o país realize uma grande Copa fora dos gramados."


Palestrantes:

Gilmar Tadeu - Secretário Especial de Articulação para a Copa do Mundo de Futebol de 2014
Raquel Verdenacci – Coordenadora da Secretaria Executiva do Comitê Paulista para a Copa de 2014
João Alberto Viol – Presidente do Sinaenco
José Roberto Bernasconi – Presidente do Sinaenco/SP
Jurandir Fernandes – Secretário de Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo
Willer Larry Furtado – Superintendente da Regional de São Paulo da Infraero
Marcelo Branco – Secretário de Transportes do Município de São Paulo e Presidente da Companhia de Engenharia de Tráfego - CET
Márcio França – Secretário de Turismo do Estado de São Paulo
Caio Luiz de Carvalho – Diretor-Presidente da São Paulo Turismo
Bruno Hideo Omori – Presidente da ABIH-SP – Associação Brasileira da Indústria de Hotéis
Aníbal Coutinho – Arquiteto responsável pelo projeto da Arena Corinthians
Frederico Barbosa – Gerente Operacional da Arena Corinthians

Elementos têxteis na arquitetura esportiva

Mais frequentemente temos visto os elementos têxteis sendo empregados na arquitetura mundial. No entanto, no Brasil, ainda há uma repressão por parte dos clientes em não querer sair muito do convencional, por medo de arriscar ou por medo dos custos, os materiais nem sempre são bem vistos.

Observando as propostas arquitetônicas dos estádios da Copa 2014, podemos notar que pouco estamos saindo do que geralmente fazemos. Pouco inovaremos e, muito menos, investindo em tecnologias e materiais que, no Brasil, ainda são raramente usados. Até mesmo pudemos ver, em um dos casos, que a cobertura seria provavelmente em policarbonato, mesmo sabendo que este material amarela com o tempo e tem uma durabilidade curta. É vendo este posicionamento que podemos nos questionar de onde vem este problema. Estaria ele nas especificações dos arquitetos e engenheiros ou na visão errônea de economia por parte do cliente, que não vê em longo prazo? A meu ver, são erros que vêm das duas partes. Alguns materiais, como o ETFE, por exemplo, é pouco conhecido dos arquitetos. Na verdade conhecem, mas não sabem das suas reais propriedades e ainda tem em mente de que é muito caro e o cliente nunca via aceitar.

No entanto, a durabilidade dos têxteis é superior à de materiais como os policarbonatos e muito mais leves pois juntam-se à coberturas metálicas como, por exemplo, á estruturas de alumínio esbeltas. Além disso, os textêis trazem uma infinidade de texturas, portanto, identidade ao projeto e liberdade à forma arquitetônica.

Mostro aqui, alguns materiais e referências:

ETFE

Clique para ampliar



As duas primeiras imagens são do Allianz Arena, em Munique, que não me canso de mencionar devido  a tantos atributos. A última imagem é do Cubo d'água, em Beijing. O ETFE tem inúmeras propriedades: durabilidade alta, em casos de incêndios se reduz totalmente - já que é um colchão de ar que estoura a película praticamente desaparecendo enquanto queima -, é autolimpante, extremamente leve, pode ser retrátil, é ecônomico, é totalmente reciclável, permite ventilação, e pode ter texturas e efeitos que passam a luz com mais ou menos intensidade, conforme a textura da almofada que se regula conforme é inflada. Permite trabalho de cores e translucidez podendo ser usado como cobertura e/ou vedação. 

A grande barreira do ETFE é que fica caro para o Brasil por não termos produtores no país, tornando o transporte na importação o grande responsável pelo encarecimento de seu emprego. No entanto, na China, para a construção do Cubo d'água, foi instalada uma fábrica no país, o que passa a baratear o material para outras construções. Só que no Brasil não há esse uso intenso que possa trazer uma fábrica e benefícios posteriores que abririam um leque enorme de opções para a arquitetura brasileira. Segundo um dos produtores, é um material que pode ser utilizado em projetos grandes ou pequenos, mas para que não seja muito caro, a fábrica tem que estar perto ou se torna inviável.

Possível uso do ETFE na copa é na arena de Manaus (abaixo), com um estudo muito bem feito, fazendo jus à qualidade do material.



PTFE

Propriedades contra fogo. Há doi tipos, feitos de PVC/poliéster e de fibra de vidro. A de fibra de vidro é muito mais resistente ao fogo, já a primeira tem sua degradação em torno de 70-80º e suas amarrações começam a se desprender por volta dos 100º, o que ajuda com a dissipação do calor. 

O material também tem propriedades térmicas adequadas e o ruído com a chuva é minimizado, diferente de coberturas metálicas que é maximizado. Efeito acústico, portanto, é melhor.

O estádio Green Point, em Cape Town, na África do sul usou PTFE em sua vedação. Veja a aplicação.


Leia mais sobre o PTFE aqui.

Outro exemplo de uso de PTFE é no estádio único da cidade de La Plata, na Argentina, com uma forma muito mais comum, tensionada em forma de tendas, neste caso, unidas. (Leia mais sobre ele)



Outros usos de têxteis em estádios com funções interessantes:

No Stadium du Littoral, feito pelo OLGGA Architects, o têxtil tem uma função diferente, delimitar espaços, manter a transparência ao mesmo tempo que dependendo da iluminação, mantém a privacidade. Funciona como uma tenda, tensionada mas sem função de vedação.







Importante que a leveza dos têxteis permite remodelações de projetos sem mudar tanto a estrutura original de um estádio. Pode ser apoiada em algumas estruturas (como no caso do ETFE onde a estrutura é levíssima) ou pode ser independente da estrutura das arquibancadas, como é o caso do allianz arena, dando liberdade total ao arquiteto.

Fontes:
Folder Vector Foiltec

Uma lição em várias histórias de Chimamanda Adichie

Hoje, diferentemente de outros posts, venho com um tema diferente. Não é um tema técnico de arquitetura, nem mesmo está relacionado aos esportes, Copa do Mundo ou Olimpíadas. Vejam, primeiramente, o vídeo em duas partes que fala da importância de rejeitar uma única história. Uma lição a todos.





Conto agora uma breve história que vivenciei em uma viagem que fiz. Em 2006, fui aos estados unidos apresentar um trabalho, fruto de um workshop de urbanismo no MIT, em Boston. Aproveitei a viagem para conhecer um pouco mais a cidade, de todas as formas possíveis, inclusive passeando de patins pela cidade. Queria conhecer ao máximo de tudo e de todos. Em um dos dias de passeio, peguei o metrô e ao aguardar em uma plataforma (errada, por sinal), um americano veio me pedir informação. Ao dizer que não era de lá, ele puxou conversa comigo e com um senhor ao lado, perguntando mais sobre de onde eu vinha e como eram as coisas por aqui. A conversa foi mais ou menos assim:

Americano: Brasil? Que legal, e como são as pessoas por lá?
Lilian: Como são em que sentido? Brancos, negros, índios, educados, marginais, rabugentos, simpáticos? 
Americano: Como são no sentido de descendência..
Lilian: Somos uma mistura, muitas descendências: alemães, italianos, portugueses, espanhóis, índios e também africanos. (nesse caso, depois de ver o vídeo me sinto até bem mal em ter generalizado, mas no caso, foi um desconhecimento meu).
Americano: Ah claro, pela proximidade, né? Por serem vizinhos, acabam migrando para o Brasil.
Lilian: Ah sim, claro... com essa proximidade toda, e só um oceano inteiro e praticamente um hemisfério de distância, torna-se muito fácil se mudar para o Brasil.
Americano: É que eu sou ruim de Geografia...

Como se não tivesse notado, cheguei a explicar onde ficava o Brasil, inclusive explicando que estava no continente americano, causando uma reação de espanto no sujeito. Mas, não contando somente esta história de como os americanos são estúpidos e ignorantes em relação ao mundo que existe fora do mundinho americano que eles conhecem, falo também da cara de surpresa do senhor que estava mais calado que falando junto a nós dois. Ele sabia da tremenda bobagem que o outro americano estava dizendo e vi na cara dele a vergonha que ele sentiu e o apoio à minha resposta e à explicação que dei. Nem todos os americanos são estúpidos.

Agora estava pensando. Não é por conta desses esteriótipos (palavra que repudio) que os brasileiros são mal vistos lá fora? Mesmo que se comportando bem? Eu mesma já fui abordada lá fora como um certo desrespeito pela imagem das mulheres brasileiras, também já passei muita vergonha ao não conseguir dançar absolutamente nada depois de muita insistência e de ouvir frases como "não há brasileira que não saiba dançar". Já passei por desaforos de italianos que mencionaram ter medo de vir aqui na Copa e serem roubados (pertences e rins). Hein? Pelo ICQ, quando criança, ainda me deparei com um inglês que perguntou quais tipos de animais tinham na minha casa e como era a minha casa, de que material era feito. Se surpreendeu muito ao saber que eu só tinha cachorros e que minha casa era de tijolo, telha, alvenaria convencional, como a dele. No entanto, já tive experiências maravilhosas, vindas dos mesmos países. Gente de fora que sabia mais do nosso futebol que muitos de nós mesmos, que gostava de artistas tradicionais brasileiros e não do funk que toca nos filmes, que sabia as diferenças entre animais brasileiros que eu mesma não sei distinguir um de outro. Não somos superiores, nem eles. Como Adichie mesmo diz, somos mais similares do que diferentes.

Quando fui para a Copa do Mundo na África do Sul, fui até com medo de me surpreender. Na verdade não sabia e não sei ainda se é bom me surpreender. Não queria chegar com uma imagem formada e não sabia ao certo o que esperar e tinha certo medo de que fosse muito diferente do que imaginava. Nunca havia pesquisado sobre a África do Sul e nem o fiz antes de visitar para não distorcer minha visão (se é que existia alguma). Meu conhecimento era geral, o que a maioria sabe: animais, safaris, 'fim do apartheid'. Felizmente, (acho que felizmente) a África do Sul não me surpreendeu em muitos sentidos o que é diferente de conhecer coisas que não conhecia.

Será que com os grandes eventos, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, que mostrarão o Brasil de todas as formas possíveis lá fora e que trará muito turista, a gente não poderia contar histórias novas e diferentes? Não deixar que somente os estrangeiros contem nossas histórias, mas nós mesmos possamos aproveitar para contar com a nossa vivência sob nossos olhares. Até nosso cinema acaba insistindo em algumas histórias que enfatizam a violência: Carandiru, Tropa de elite e Cidade de Deus são alguns deles. São ótimos filmes na minha opinião, mas não contam histórias diferentes, batem na mesma tecla, fortalecem a mesma imagem, a mesma história. O cinema brasileiro tem conquistado novas áreas como a comédia ou o drama. Mas os de maior sucesso lá fora, são os que mostram a violência. Não deixa de ser nossa realidade, mas não a única, o país tem muito mais o que mostrar, muito mais a contar. Somos um povo hospitaleiro, um povo que ri da própria tragédia, um povo trabalhador, artista, solidário. Temos muito trabalho em cima de campanhas contra a AIDS. Quase não mostramos isso (salva uma aparição de controle e exames no carandiru). Por que não mostrar um pouco de positivismo. Além di violência, o que vemos adoidado é promiscuidade. Como podemos querer credibilidade se nós mesmo, o nosso cinema, só mostra isso?

Incentivo e espero estimular qualquer brasileiro que queria fazer estudos fotográficos, teatrais ou cinematográficos que contem coisas diferentes, sob olhares diferentes, contemos histórias para nós mesmos, assim nós mesmos diminuiremos nossos preconceitos regionais e respeitaremos mais uns aos outros. Acho que esse pode até ser um argumento de projetos culturais para os brasileiros conseguirem apoio, do governo ou do poder privado. Que a gente possa aproveitar da nossa forma a oportunidade e visibilidade que estamos ganhando por um bom período.

17.11.11

Arena Bilbao

Apelidado por alguns de lagarto verde, a arena de basquete está localizada em Bilbao, cidade que é conhecida no mundo principalmente pelo Museu Guggenheim, de Frank Ghery.

Trago este equipamento para o blog por vários motivos, mas três deles são os principais: inserção no terreno, preocupação ambiental e vedação. Claro que não comparo as soluções com possíveis aplicações em estádios pois a capacidade do equipamento é extremamente menor, 9.000 pessoas, mas serve como avaliação das possibilidades e técnicas que podem ser utilizadas pelos arquitetos desde que estes tenham liberdade de trabalho, sem ser limitado pelo cliente, como também uma visão do cliente aberto às opções. Além disso, não é qualquer arquiteto que consegue fazer projetos para públicos grandes, deve ter experiência e/ou estudos na área. São programas complexos e um arquiteto leva um bom tempo para compreender e ainda assim poder criar novas soluções como esta abaixo.

A implantação
O bairro onde está inserido é residencial e um equipamento esportivo geralmente é a causa de muitas reclamações por causa de barulho excessivo. É exatamente por esse motivo que o projeto já previu posicionar este equipamento no topo do terreno. Dessa forma o som é minimizado e, se trabalhado junto com o paisagismo aí sim, praticamente neutralizado.

Diferente de muitos equipamentos esportivos que vemos hoje em dia, este conseguiu manter todo seu entorno permeável, sem deixar de se preocupar com a segurança em casos de incêndios e/ou pânico. Usou seu próprio corredor como área aberta, poupando de ventilações forçadas.

A preocupação

Geralmente, o grande questionamento do governo e também dos cidadãos (principalmente os que não praticam esportes) para se permitir a construção de equipamentos esportivos é o quanto eles vão custar, não só na construção, mas em gastos de manutenção. É fundamental considerar tanto os usos que o local deve ter para que consiga se sustentar financeiramente e sem ficar às moscas, como também se atentar às atitudes que podem ser tomadas desde a elaboração do projeto para que os gastos sejam reduzidos. Geralmente esses equipamentos consomem uma quantidade de energia bem grande por conta de iluminação noturna interna e externa, ambas potentes, para garantir a qualidade de jogos e segurança do público e da região onde se insere.

O escritório ACXT responsável pelo projeto arquitetônico, demonstrou extremo cuidado com materiais e com a iluminação e ventilação da arena, poupando de gastos desnecessário e aproveitando a iluminação do sol forte de Bilbao, mas protegendo-o local através da fachada (logo mais comento sobre ela).

O projeto tem espaços que podem ser utilizados pelos habitantes locais quando a arena não estiver sediando uma partida. Esse setor está produz menos barulho, é, portanto a parte mais próxima aos edifícios do entorno, localizados no trecho em anexo, na parte mais baixa do terreno. Esse setor é naturalmente iluminado e para garantir a boa distribuição dessa iluminação, as divisões internas são em vidro.

O equipamento também possui uma cisterna para captação da água da chuva, utilizada na irrigação de toda essa parte externa permeável e parte da água da piscina localizada no setor anexo, deve ser retirada diariamente por questões de higiene. De forma alguma essa água seria disperdiçada, então também é reutilizada na lavagem das ruas das proximidades.

A fachada

A vedação externa é feita em placas de metal que simulam folhas em diversas cores. Elas podem ser retiradas permitindo melhor ventilação e iluminação nos corredores e, mais, permitir uma vista privigilegiada da região já que está no topo em relação as edifícios vizinhos. No entanto, vejo-as funcionando como escamas, que podem ser trocadas e até mesmo remanejadas, dando até um carater metamórfico e interativo, mudando a paisagem. de fato, não sei se é possível, mas aparentemente as placas são de tamanhos iguais e imagino que possam ser redistribuidas e ter seus trabalhos de cores transformados.



Vale ressaltar também que está arena conta com arquibancadas retráteis (veja neste vídeo), equipamento fruto de bastante curiosidade pelo público aqui do blog. Leia mais sobre o assunto no Blog Arquibanca, clicando aqui.

No entanto, essa fachada não é extremamente parecida com a fachada do projeto do novo Camp Nou, estádio do Barcelona, projetado pelo escritório Foster & Partners? O que acham? Vejam mais. Ambos os projetos são de 2010, ambos na Espanha.




Fontes (com mais fotos disponíveis): 
Inhabitat
Arch Daily


Queremos uma Copa 'verde' em um Brasil cinza? O caso Belo Monte

Muito foi discutido e especulado sobre como tornar a Copa 2014 em um evento verde. Não só pelo evento em si, mas para o Brasil aproveitar a Copa para melhorar a imagem e emplacar de vez como país referência em sustentabilidade perante o mundo. 

Aos poucos, todo esse entusiasmo e dedicação parece estar diminuindo. Pouco se fala nas novas idéias e projetos saindo do papel para que esse evento realmente seja visto dessa forma e para que possamos melhorar nossa imagem, melhorando o turismo e os negócios. No entanto, queremos montar uma imagem ou queremos realmente mudar? 

Por mais que se discuta o tema, o governo continua tomando decisões estúpidas e contra o investimento sustentável, o planejamento ambiental e na reversão dos nossos problemas. Quais as melhorias de saneamento básico que vemos? O que significam as mudanças no código ambiental? E os gastos inexplicáveis e extraordinários com a tal divisão do Pará onde só o Pará vota e onde todos os brasileiros pagam? 

Mais grave ainda é a construção da usina de Belo Monte, que, desde ontem, ganhou imenso espaço na mídia social e internet graças ao vídeo e petição elaborada não só por globais, como muitos vêem, mas por cidadãos brasileiros. Faltou a Gisele Bündchen que tanto defende o projeto "Y ikatu xingu" que tem o intuito de proteger as nascentes e matas ribeirinhas do Rio do Xingu. Foi até nomeada embaixadora pela ONU, por esse motivo.

Ontem, às 21:00 foi lançado o livro e o movimento "A gota D'água" e o site para a assinatura da petição a ser enviada para a presidenta. Não acredito na idéia de que não adianta fazer nada pois não vai mudar. Se muita gente se manifestar, é praticamente uma revolução. Não custa nada, é rápido, é digno. É a sua moral e sua humanidade em cheque.


Visite o site do movimento e ou consulte o twitter ou facebook. E, se você acreditar, assine a petição aqui. (infelizmente, o site está meio congestionado basta atualizar algumas vezes que uma hora funciona e dá pra assinar)

Já vi gente reclamando que os globais poderiam fazer uma campanha contra a corrupção, como se fosse uma causa maior. Ambos são graves, não sei qual é pior, mas os danos à natureza são muito mais difíceis de reverter. Além disso, não deixa de ser um tapa na cara dos corruptos, afinal, em um dos vídeos disponíveis no site do movimento, há a acusação ao presidente do IBAMA, que assina a autorização a esse projeto sem escrúpulos. 

"O que faz de um homem, um homem, se não faz do mundo um lugar melhor" 
autor desconhecido, mas mostra entalhado em uma madeira no filme " A cruzada". 

15.11.11

Feng Shui em estádios - Entrevista com Mônica Frossard

A partir de um contato com a consultora Mônica Frossard e desenvolvimento de uma conversa  respeito de uma possibilidade de realizar um projeto de Feng Shui em estádios e/ou equipamentos esportivos, realizei uma breve entrevista sobre as possibilidade e potencialidades deste trabalho.

1 - Inicialmente, gostaria de saber se você já viu, já soube ou já fez esse trabalho em estádios e/ou em equipamentos esportivos. Se sim, em qual(is)?
Mônica Frossard: Nunca o fiz para um estádio de futebol e nem tenho informações do Feng Shui já aplicado em algum estádio até pela falta de informação que os mesmos detém a respeito da técnica. Entretanto, devido à oportunidade da Copa, o surgimento de grandes eventos envolvendo estádios e um grande número de pessoas, acho bem oportuno o projeto. O Feng Shui pode ser aplicado em qualquer espaço, sendo os estádios locais onde as energias são muito potencializadas. Lembrando que o Feng Shui não tem cunho religioso é uma técnica energética (acupuntura dos espaços como gosto de dizer).

 2 - De que forma o feng shui pode ser trabalhado? Qual é a metodologia de trabalho: em cima de uma planta geral, ou dividida por setores?
Mônica Frossard: O Feng Shui trabalha tendo como base a planta baixa do local, e setoriza os espaços de acordo com um estudo técnico e utilizando recursos da bússola octogonal que contém 9 áreas ou guás a serem trabalhados: Sucesso, Relacionamentos, Criatividade, Amigos, Trabalho, Espiritualidade, Família, Prosperidade e Saúde.



3 - Quais tipos de resultados podem ser conquistados através desse estudo?
Mônica Frossard: Esse estudo canaliza e potencializa o campo energético do lugar, proporcionando maior aproveitamento dos que lá desfrutam. Tornando os espaços mais produtivos, geramos uma melhoria em todo o ambiente.Permitindo que as pessoas exerçam suas potencialidades ao máximo e isso, para um estádio de esportes, é perfeito.Valorização da harmonia, potencialização dos atletas, produtividade e rentabilidade para o empreendimento.Atenção: Feng Shui não ganha jogo, quem o faz são seus jogadores!

4 - Feng Shui trabalha com a organização das energias de um espaço, correto? No caso de estádios, a multidão de pessoas é diferente? É possível trabalhar da mesma forma?
Mônica Frossard: Sim. No Feng Shui trabalhamos os espaços e assim iremos gerar os resultados de bem estar para as pessoas. É uma lei de ação e reação.

5 - As cores tem grande importância no feng shui. A presença de uma torcida uniformizada enfatizando alguma cor, pode mudar a energia do local? As cores dela podem ter alguma influência no comportamento dessa torcida em relação à violência nos estádios? Se sim, há alguma forma de trabalho que possa equilibrar ou neutralizar esse comportamento negativo?
Mônica Frossard: As pessoas sempre interferem na energia dos locais, pois também possuem seus CH’I- ou seja sua energia vital, todas pessoas e espaços possuem  um campo magnético de atuação.

Já está provado que as cores influenciam, sim, as pessoas. Por ser mais difícil modificar as cores de um time, de uma torcida, utilizamos técnicas trabalhando com os espaços , harmonizando esses espaços suas energias irão influenciar de maneira mais benéfica aos que lá desfrutam, tanto no operacional como as eventuais torcidas, Um espaço energeticamente adequado gera uma qualidade de vida mais equilibrada, e torno a enfatizar que isso são uso de técnicas e não religião.

6 - Que cores trazem que tipo de efeito (considerando as principais cores dos times: vermelho, branco, preto, verde, azul, amarelo)?
Mônica Frossard: No Feng Shui cada setor ou guá tem a sua cor, o vermelho corresponde a área de sucesso, branco e amarelo – criatividade, preto – trabalho, verde – família, azul e lilás – espiritualidade.

Acima, projeto do Beira-Rio, em Porto Alegre, com arquibancadas predominantemente vermelhas

7 - Por quais motivos você recomenda o feng shui em estádios e, se possível, me fale sobre os custos de um estudo e a viabilidade de ser implantado o projeto. (Por exemplo, o estádio do Internacional (RS) tem, em boa parte do estádio a cor vermelha e digamos que essa cor traga uma energia que não colabore com o estádio, o clube não trocaria os assentos e cores do time por causa disso. A maioria das mudanças para o equilíbrio é viável?)
Mônica Frossard: Na verdade recomendo o Feng Shui para todos os espaços: escolas, hospitais, empresas, lares e inclusive estádios, pois a alta concentração energética nesses locais é muito intensa. Ao estabilizarmos esses campos energéticos, tendo em vista geo localização, solo, etc., geramos um equilíbrio maior que irá refletir em bem estar, potencialização dos atletas e fluxo de negócios.

Quanto a viabilidade , toda vez que desejamos transformações, temos que aceitar mudanças ou então ficamos com o velho e estagnamos. Ningúem descobre novas caminhos usando velhos mapas.

Mas não precisará mudar a cor de um time, como já disse, adequamos os espaços em função de um melhor fluxo. Em relação aos custos, somente de posse do projeto é que se pode orçar com bases sólidas indo de acordo com as necessidades apresentadas ou detectadas e tamanho do local a ser trabalhado.

8 - Dependendo da modalidade esportiva (futebol, tênis, poliesportivo) muda a forma de trabalho do feng shui? Em casos de outros eventos como shows, eventos religiosos, exposições e conferências que venham a acontecer no estádio, muda o estudo e deve ser alterado algum item para que a energia flua melhor? 
Mônica Frossard: O estudo do Feng Shui e sua aplicação se dá da mesma maneira, para qualquer ambiente. Entretanto, o que irá mudar é o enfoque da área a ser exaltada. Ex: Eventos Religiosos – setor a ser reforçado será espiritualidade e amigos. Eventos como Show: setor a ser reforçado – criatividade, sucesso, amigos, relacionamentos.



Gostaria de agradecer a Mônica Frossard pelas respostas e por ter aceitado falar sobre o assunto. Quem quiser ler mais sobre Feng Shui, pode acessar o Blog Feng Shui Harmonizando Caminhos escrito pela Mônica ou entrar em contato com ela pelo email: monicafrossard@terra.com.br ou ainda seguindo-a no Facebook. (clique nos links para acessar o blog e o perfil)
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