Livraria Cultura

16.10.13

Zaha Hadid é contestada com o estádio nacional do Japão

Há pouco mais de um ano foi lançado um concurso de arquitetura para o Estádio Nacional do Japão e quem ganhou o concurso foi nada menos que Zaha Hadid. (veja aqui todos os finalistas)



O estádio deve ser sede dos jogos olímpicos de 2020 e da copa do mundo de rugby de 2019 e terá capacidade para 80.000 torcedores, quase o dobro do que recomenda-se hoje (indo de 40.000 a 60.000 para eventos maiores, facilitando a sustentabilidade financeira). O estádio deve abrir e encerrar o evento e pretende-se realizar shows posteriormente, o que recomenda-se para a manutenção e gestão de um estádio grande, mas que fere a qualidade do gramado.



O projeto

Sob criteriosos quesitos e restrições o concurso era exclusivo para arquitetos renomados usando como exigência prêmios importantes da arquitetura, como o RIBA ou Pritzker, e com experiência comprovada em projetos de estádios acima de 15.000 assentos.

Em vídeo, Toyo Ito falava de todas as necessidades que o projeto deveria atender, dando grande ênfase à sustentabilidade. O estádio também deve ter uma estrutura retrátil e complementar a paisagem, critério que a arquiteta iraquiana (radicada na grã bretanha) diz atender criando uma cobertura única e coesa, formando uma silhueta que se integra à cidade.


Segundo Tadao, a fluidez chamou a atenção no projeto e segundo a arquiteta a ponte criada é um novo modo de vivenciar esse espaço no eixo Norte-Sul e acredito que realmente o estádio não pareceu uma barreira física e, dentro do possível, afinal um estádio não passa despercebido, também não é uma barreira visual por conta de suas curvas - característica da arquitetura de Hadid. No vídeo podemos ver a corbertura retrátil que dá uma sensação de leveza absurda. Além disso, observem as rampas de um nível a outro, rampas de acesso que dão uma fluidez no acesso que parece funcionar bastante em países civilizados e que só favorece a saída de emergência. No entanto, barreiras mais externas são necessárias para controle de acesso.


O estádio ainda conta com um museu e cria uma praça pública, que não acredito funcionar muito bem, mas que pode servir como suporte para contenção gradual de público e como suporte para os grandes eventos que deve hospedar.



Localização




O estádio será construído no mesmo lugar onde, em 1964, o Japão hospedou pela primeira vez os Jogos Olímpicos.

Sustentabilidade

Um dos pontos 'verdes' da construção é a promessa de uso de águas cinzas (residuais) e foi incorporado ao conceito refrigeração com água de chuva e uso do calor geotérmico.



Protesto

Segundo o site Plataforma Arquitectura, o arquiteto renomado Fumihiko Maki tem tentado reunir forças de outros arquitetos famosos japoneses contra o projeto 'demasiado grande e demasiado artificial' para o contexto do entorno. Realmente o estádio tem uma escala gigante, no entanto, que arquitetura não é artificial? Além disso, ele está questionando portanto, toda a arquitetura de Zaha Hadid, pois ela tem sempre este tipo de traço.

"Espero que  este protesto tenha êxito para a redução do tamanho do projeto para se adaptar ao contexto" comentou Sou Fujimoto, um dos arquitetos unido à Maki, Toyo Ito (que participou do concurso) e Kengo Kuma. “Não estou lutando contra Zaha. A competência para o estádio foi muito rigorosa e não se pode revertir totalmente. Mas o desenho poderia ser melhor."

Fumihiko Maki criou um simposio chamado “Re-pensando o novo Estadio Olímpico no contexto histórico de Gaien”, com a participação de Toyo Ito, Hidenobu Jinnai, Shinji Miyadai e Tetsuo Furuichi. O debate será transmitido ao vivo no Ustream assim as pessoas interessadas poderão ver os posicionamentos em relação aos ajustes que consideram ser válidos. Os arquitetos convidados deixam claro que não questionam a vitória de Hadid, mas que acreditam em ajustes no design do projeto para interferir menos na paisagem.

A escolha do estádio foi feita por Tadao Ando, portanto, não é todo arquiteto renomado japonês contra. Segundo ele, "a entrada dinâmica e futurista do estádio incorpora a mensagem que o Japão gostaria de passar para o resto do mundo. Acho que esse estádio vai se tornar um altar do esporte mundial pelos próximos 100 anos."

Na opinião do responsável pela escolha do projeto de Zaha, o estádio incorpora-se muito bem na paisagem de Tóquio. Comentem! Vocês acham grande demais? Acreditam ser justo o pedido de outros arquitetos como certa interferência no design de Zaha Hadid? Eu confesso que ainda não consigo chegar à conclusões sem mais material técnico para pensar. Pelas imagens tem hora que parece coerente, mas tem hora que realmente parece meio desproporcional. O problema é que ainda não sei ao certo qual o problema em ser desproporcional (como nas duas imagens abaixo), se estiver esteticamente cativante como está e se a função e programas estiverem bons. Não parece, inicialmente ter tanto impacto no entorno.



Comparação


O orçamento do estádio deve atingir cerca de 1,62 bilhão de dólares e deve começar após a demolição do estádio atual, que deve ser concluída em 2015. Já como comparação, o estádio do Corinthians deve atingir cerca de 1 bilhão de reais, sem demolição de estádio algum. Dá para pensar um pouco, o estádio em Itaquera não terá demolição e não tem tanto design, no entanto tem um interior como um shopping.

Fontes:

Casa Vogue
Inhabitat I II
Plataforma Arquitectura

*Assim que tiver mais material técnico para analisar, complemento este artigo, tentando me posicionar.

UPDATE: Novembro de 2013
A arquiteta Zaha Hadid vai ter que reajustar seu projeto, modificando a escala, conforme o pedido dos arquitetos citados acima.

13.10.13

Dica de leitura: Revista Finestra set-out

Recebi esta semana a revista finestra (ed 82 - set-out) e como sempre me pedem literatura ou referências, recomendo esta edição como forma de se atualizar em relação aos projetos dos estádios da Copa 2014 e também como forma de compreender um pouco mais os detalhes construtivos e características de cada um.


Não posso dizer que é completo, que vão encontrar tudo lá, mas é muito melhor que muito livro só de estádios. A revista conta com boas imagens, cortes e detalhes interessantes e pode ajudar quem está desenvolvendo trabalho final em arquitetura.

Sou assinante da revista e não sei como que se compra a edição avulsa. Acredito que algumas bancas tenham (tinha na banca próxima do Mackenzie, em SP). Mas para quem for de fora ou não encontrar, sugiro que entre em contato com a arco web. É o contato que tem na revista e lá, de repente, conseguem a edição 82. Aos poucos, acredito que as matérias possam ser lançadas no site.

Matérias da edição:

Arquitetura
- Estádio Nacional (Mané Garrincha)
- Arena das Dunas
- Fonte Nova e seus brises

Tecnologia
Almofadas pneumáticas (como as do allianz arena - da vector foiltec)
Mega estrutura metálica da arena de manaus
Castelão

Ecoeficiência
Castelão e a certificação LEED
Usinas fotovoltaicas não estão em todos os estádios como desejado
Salvo positivo da conferÊncia GBC Brasil

Contatos:
Canais de atendimento arcoweb@arcoweb.com.br ou arcoweb.com.br/contato
Assinaturas - de 2ª a 6ª das 9h às 18h 0800 11 9688, assinaturas@arcoweb.com.br ou arcoweb.com.br/assinaturas



11.10.13

Pré estreia do documentário "Fla x Flu - 40 minutos antes do nada", no Museu do Futebol

Ontem tive o privilégio de ser convidada para o pré lançamento do documentário Fla x Flu, de Renato Terra, no Museu do Futebol (no Pacaembu).


O documentário de 85 minutos, que passa voando, alimenta a rivalidade saudável entre torcidas rivais de forma engraçada. Fugindo de depoimentos técnicos, a paixão é documentada e complementada por imagens históricas do clássico futebol carioca que "deveria ser chamado de futebol fluminense, já que se refere ao estado e não à cidade do rio de janeiro", como disse Renato Terra ao fim da apresentação durante um debate.

O documentário não é só para flamenguistas ou fluminenses, nem mesmo somente para cariocas ou fluminenses, nem mesmo somente para quem gosta de futebol. Os depoimentos (de jogadores e de torcedores) são extremamente contagiantes a ponto de conquistar e fazer compreender a paixão pelo futebol e o poder social do esporte na união de pessoas distintas. 

O documentário registra também o principal clássico do futebol brasileiro e qualquer torcedor se reconhece em alguma das histórias, ou poderia complementar com outras parecidas. O registro da forma de torcer legítima brasileira, que aos poucos foi se perdendo por normas, regras e também por segurança traz um saudosismo para quem vivenciou tudo isso.

Veja o trailer:



Estes dias mesmo postei sobre o que é ruim da rivalidade excessiva, mas ao ver este filme, vi o que sinto de melhor na rivalidade do futebol. Recomendo este documentário a qualquer pessoa. 

A questão da reforma (ou chamada multilação) do Maracanã também foi comentada pelo Sacha e Renato ao término do documentário, ambos acreditam numa experiência diferente. Quem viveu o 'maraca' daquela forma até o fim dos anos 90, não vive mais. "Hoje o estádio é confortável, bom, mas um estádio comum", disse Renato. Já Sacha prefere se manter no bar de sempre onde acredita ter mais energia.
Segundo Renato, o Maracanã agora representa o modo robotizado FIFA de torcer. 

Estamos perdendo, com cada atitude, um pouquinho do nosso futebol e muito do jeito brasileiro de viver o futebol.

O fato de que algumas pessoas quererem acabar com os campeonatos estaduais em prol de um calendário de jogos melhor organizado também foi colocada em questão ao término do filme e Sacha se colocou completamente contra o fim. Concordo com Sacha, pois é uma manutenção da história do futebol e segundo ele mesmo disse, "Qual a graça do Flamengo ganhar do Internacional, por exemplo, e num achar um torcedor no dia seguinte para tirar com a cara?"

Enfim, a rivalidade da melhor forma que pode acontecer.

O filme emociona cada pessoa que vê o filme, nos fazendo variar entre olhos marejados e risadas.

3.10.13

Novo estádio do Bordeaux


A nova casa do FC Girondins de Bordeaux, começou este ano, na França, a construção do novo estádio em Bordeaux, assinado pelo famoso escritório Herzog & de Meuron. Os arquitetos, na área esportiva, são responsáveis pelo estádio do ninho, em Beijing, pelo Allianz Arena, em Munique, e tem até uma proposta para o Camp Nou, na França (abaixo). O estádio deve ter obras concluídas em 2015 e sediará a Eurocopa 2016. 

Proposta do escritório Herzog e De Meuron para o concurso para o Camp Nou, 2007

Demorei para postar pois ainda não haviam imagens o suficiente para fazer alguém além do que todo mundo fez na época (abril deste ano).

O projeto

Orçado em aproximadamente 168 milhões de euros, o estádio tem formato retangular, branco, destacando-se na paisagem (elegantemente, segundo os arquitetos). Uma floresta de colunas, que de certa forma até faz lembrar nosso Mané Garrincha sustenta a cobertura. Nela, existirão aberturas para a entrada de luz natural e como parte do complexo também existirá uma usina fotovoltaica adjacente ao estádio, mas nada ainda muito bem divulgado.




O projeto é localizado em um cinturão verde já existente e contará com uma praça pública em frente, com projeto assinado pelo francês Michel Desvigne.

A idéia do projeto surgiu para que houvesse o desenvolvimento de algumas áreas já pensadas pelo planejamento da cidade. A partir desta definição que foi lançado o concurso - prática comum fora do Brasil. 


O estádio é facilmente acessado por transporte público, e conta comum paisagismo com algumas áreas asfaltadas para melhor acesso do público, mas também com outros tipos de pavimentação mesclada com verde para ficar mais adequado ao entorno - critério pedido no concurso para que o estádio respeitasse e se integrasse com o ambiente.




 

Para maior fluidez da forma do estádio, o teto do acesso, onde as colunas se encontram com a cobertura, foi desenhada de forma côncava, como um prisma, como se convidasse o público ao estádio. Ao mesmo tempo, enxergo as colunas indo contra isso, mas é uma sensação minha. No entanto, a floresta de pilares é uma referência ao ambiente, às árvores, que fazem essa malha ao redor.




A imagem da maquete acima, tem uma coloração diferente na cobertura. Não encontrei nenhuma informação, mas acredito que a parte mais translúcida seja de um material com maior transparência, para uma iluminação do campo mais saudável. No Allianz Arena, o escritório já usou esse tipo de desenho.

Na foto acima, onde podemos ver a área bastante verde, o local onde está sendo construído, com o norte para cima. Ou seja, essa transparência deve estar no lado Oeste do estádio, onde realmente tem uma via, como na maquete. Geralmente, no hemisfério norte, a transparência deve abranger mais a parte sudoeste, que é o período da tarde que precisam de mais iluminação, mas neste caso foi deixado simétrico.







Desenhos

No corte acima podemos ver melhor esse prisma e a suavidade que os pilares tem, deixando visualmente mais convidativo. A acessibilidade de deficientes físicos e idosos que não parece confortável no que vemos no desenho. Para o tipo de terreno, sem grandes desníveis, seria muito interessante um acesso em nível, mas a opção ficou por escadarias. Não vi em nenhuma das imagens uma rampa, mas não é possível que hoje não se pense nisso. Deve ter em algum lugar!

                                       


O vídeo de divulgação:


Cada vez mais os clubes e escritórios investem neste tipo de apresentação de projeto. Cada vez com uma cara mais empresarial.

Enquanto o estádio mantém definições que são tendência, como a quantidade de assentos - 43 mil - assume outros usos contrários. Em sua programação estão jogos de rugby e também shows, indo na contramão de muita administração - inclusive há boatos de que receberá até futebol americano. Fico imaginando como fica a mudança do campo para esportes diferentes e a qualidade do mesmo, já que sofrerá bastante com usos não adequados e com usos mais frequentes. Alguém conhece uma referência do tipo? Favor comentar se souber.



Abaixo, segue uma série de fotos que podem complementar o texto (fontes variadas: skyscraper, inhabitat, fotos oficiais do escritório para divulgação). Clique para ampliar:









O estádio tem algumas coisas interessantes, mas em resumo, é mais do mesmo. Deve funcionar bem por seu conceito de união com praça pública, mas não é grande exemplo em nada. Há grandes trunfos que podem servir para a sustentabilidade como a usina fotovoltaica que deve suprir todas as necessidades do estádio e entorno, a cobertura facilita pode ter uma captação de água de chuva, a cor branca é interessante para a redução das ilhas de calor, inclusive pode ser bom para a área interna do estádio, a pavimentação é interessante por ser parcialmente permeável (algumas partes mesclam materiais). Mas nem tudo foi mostrado na mídia ainda.

Nos camarotes, vips, etc, nada de sensacional, nada de único, como no Allianz arena. Sempre preguei a necessidade de criar algo com identidade, forte, para que agregue valor e garanta funcionamento e interesse do público. Pelas imagens acima, nada de especial.

O mais interessante do projeto é o conceito elaborado pelo concurso, localizado ao lado de um velódromo, de um campo de golfe e com esse contato com a natureza, próximo ao rio.

Quem tiver mais novidades, comente!

Fontes:

Archdaily
Inhabitat PINI
Skyscraper


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