Livraria Cultura

15.6.09

Cidades-sede: a vez de SALVADOR!

A forma em que venho escolhendo é aleatória, simplesmente a que me dá vontade de comentar, sem parcialidade alguma.

É a vez de Salvador! Outra que vem gerando polêmica também. O estádio em questão é o Fonte Nova. Conforme notícia apresentada no Portal da Copa, o projeto inicial não está sendo totalmente respeitado e parece que não se está respeitando também o bem tombado, como patrimônio cultural nacional: o Dique do Tororó!
Antes de qualquer comentário ao projeto ou as qualidades e problemas da cidade, acho que o respeito ao bem tombado é fundamental e tem que ser resolvido logo. O bem tombado representa nossa história, hábitos, sociedade e, se assim o IPHAN resolveu proteger, é porque tem algum motivo significativo para a nação e cultura do Brasil e TEM que ser respeitado por lei.

Agora ao estádio. Fonte Nova quando tem seu nome mencionado faz surgir na cabeça de muitas pessoas a triste imagem do acidente, em 2007, que matou torcedores quando parte da arquibancada superior caiu. O projeto para o estádio diz ter grande preocupação com o conforto do torcedor. Além de ser totalmente coberto (por cobertura excelente em ETFE - película leve e auto-limpante), teve um investimento na melhoria da visibilidade com a aproximação do público com o campo. Enfim, um projeto que visa a qualidade do espetáculo e não se restringe às exigências da FIFA simplesmente respeitando-a, mas trabalhando dentro delas da melhor forma possível . ("191 metros do campo" - para bom entendedor, meia palavra basta).


Não achei (particularmente) o projeto um espetáááculo, mas acho que é um dos melhores que já foram apresentados. Achei que o maior êxito do projeto é a grande valorização recíproca entre entorno-estádio. Salientando somente que deve ter esse cuidado com o bem tombado.

Bom, não precisa explicar, mas Salvador esbanja história, cultura (leia-se: culinária, arquitetura como pelourinho, elevador lacerda, que são mundialmente conhecidos, costumes e artesanatos, a capoeira, música: olodum e axé, por exemplo). Enfim, tem muuuuita coisa a ser lembrada e mencionei somente algumas das que vieram na cabeça. É por isso, acho que a valorização dessa cultura e história deva ser garantida, tem muita coisa meeeesmo.
Lembrei-me agora de um comentário durante o Fórum ESPM Copa 2014, realizado São Paulo, em Abril, que exemplificou bem um benefício grande do 3º setor terá, proporcionado pela Copa. Não me lembro quem disse, mas a Copa abrirá portas para a criatividade do povo, e foi exemplificado o caso da baiana: que poderá lucrar com seu acarajé em um possível formato de bola de futebol. Acho que aí é que entra a dedicação e inteligência de cada um, em usar a Copa a seu favor, de forma honesta e a contribuir, ao mesmo tempo, com a promoção do país. Salvador participa tambémde uma rota turística bastante e além de se beneficiar com a copa, também beneficiará ainda mais as cidades vizinhas que não são sede.

A cidade tem a proposta de fornecer acesso ao estádio através de duas estações de metrô e ligar o aeroporto, que é um pouco distante, através de um VLP (Veículo leve sobre pneus). Essa opção já faz com que eu simpatize mais pela campanha pois não enfatiza o uso de carros como acesso, construção de túneis, avenidas, pontes, elevados, enfim, coisas que fortalecem o estúpido e incauculável rodoviarismo. O estádio fornece sim estacionamento, mas também fornece amplo transporte coletivo.

Com o tema de copa verde, o projeto do estádio também menciona cumprir aquelas noções mínimas que temos sobre aproveitamento de recursos como água da chuva para sanitários e irrigação de gramado¹. Isso não limita estudar novas opções ou analisar outras atitudes saudáveis à realização do evento e para o pós-copa em Salvador.

Imagino que o maior problema (nem tanto problema, mas onde deva exigir maior empenho) é na instrução de profissionais e educação, ao longo dos próximo anos, e, também, um desenvolvimento da infra-estrutura hospitalar e da segurança. Conscientização e bons modos, não só em Salvador, mas em todo o país devem começar imediatamente a ser trabalhados.
O projeto do estádio foi fruto de um concurso onde o vencedor foi o arquiteto Marc Duwe (formado na FAU-USP) em parceria com o escritório Schulitz+Partner Architekten da Alemanha, que, por sua vez, tem experiência na Copa do Mundo de 2006, com o estádio de Hannover. Um concurso² de arquitetura sem dúvida garante melhores resultados pelo leque de opções oferecidas, feitas por profissionais/equipes realmente interessadas (não somente contratadas). Não é a toa que este projeto escolhido teve grande preocupação com a mémória da cidade e o entorno do Fonte Nova. O projeto também visa um café, um museu do futebol (que provavelmente também mencionará o acidente de 2007, e possibilita o uso do estádio para outros eventos.
Imagino que a Copa deixará um bom legado e desenvolvimento para a capital baiana.
Enfim, Salvador não parece ser tão problemática quanto outras cidades-sede, o que não a deixa livre para investir no que peca e em coisas para surpreender! - lema que a FIFA exige e que nunca é demais se preocupar.

Notas:
1 - Ver post
"A grama do vizinho não é mais verde" sobre a importância do gramado.
2 - Aproveito o post para mencionar que um concurso é sempre injusto com profissionais que dispuseram seu tempo e que não foram pagos por isso, algo que freqüentemente acontece com o profissional da arquitetura devido à falta de respeito e de entendimento do que é a elaboração e concepção do projeto.

8 comentários:

  1. Li, parabéns!! Seus artigos estão cada vez melhores!! Uma dúvida bem besta: este metrô em Salvador já existe ou vai ser feito especialmente para a Copa? Eu já estive em Salvador mas não consigo me lembrar de metrê de jeito nenhum... Gostei muito deste estádio, especialmente de como a cobertura parece flutuar sobre os assentos. E por acaso alguma fonte chegou a divulgar projetos de alojamentos para atletas? Fico curioso como vai ser a arquitetura além dos estádios... Mais uma vez, PARABÉNS! Seu blog está fantástico!!

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  2. Sobre o metrô, eu vi esse texto que fala sobre como as obras estão encalhadas desde 2000. Apesar do título do site ser engraçado, ele até que explica bem a situação: http://www.galinhapulando.com/visualizar.php?idt=971718

    Eu não vi nada ainda sobre os projetos de alojamentos. Sei que alguns ficarão em centros de treinamentos que estejam em muito boa qualidade ou que sejam preparados para isso, ou hotéis que tenham algo perto para treinar. Até imaginei propor ao hotel Bourbon daqui de Atibaia (que é onde o Palmeiras treina) é um hotel excelente, consegue restringir bem o acesso de gente de fora então acho que esse vai ser o padrão. Vou ser se acho algo sobre o assunto e ele vira um novo post. Mas acredito que não seja como o Pan, com vilas que depois seriam destinadas à habitação. Além de Centro de treinamentos acho que, dependendo da distância, cidades vizinhas que ficaram fora podem até hospedar algumas seleções (mas imagino que SE isso der realmente certo, será mais no nordeste pela grande proximidade). Obrigada

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  3. Lilian, do ponto de vista urbanistico, as cidades deveriam investir em bondes modernos (trams) e monotrilhos ou voce pensa que estas constucoes causam poluicao visual e que onibus mais confortaveis e o mais adequado as nossas necessidades?

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  4. Claro que não.... sou muuuito mais a favor de bondes e trens mesmo... leia o texto que postei antes desse sobre cuiabá... até mesmo mencionei isso. Acho que é até bastante interessante para a imagem da cidade tê-los de volta.
    Só acho que seja um pouco utópico porque nossos políticos se baseiam nos americanos.. que aaaaamam rodovias. Até conseguir mudar essa mentalidade acho q vai levar um tempo.
    acho que não tem impacto em poluição visual não. Como disse, acho até interessante a interferência deles nas nossas cidades.

    O que mencionei nesse texto é que comparando a outras cidades, Salvador pelo menos escolheu dos males o pior, não tá dando ênfase ao carro, como, por exemplo, São Paulo está.

    Obrigada pelo comentário :)

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  5. Boa tarde Lilian.
    Estive analisando o projeto da nova Fonte Nova, em Salvador BA. Primeiramente, gostaria de lembrar que Salvador é uma cidade que possui uma grande média de público nos campeonatos brasileiros e que o Bahia, mesmo não estando na primeira divisão atualmente, possui uma torcida fanática e que vai em todos os jogos da equipe.
    Por isso, fico triste quando ouço falar que existem arquitetos contrários à demolição da Fonte Nova para a construção de um novo estádio em função de uma suposta preservação da edificação pelo IPHAN. Acredito que, o que é preservado é o Dique do Tororó e não o estádio da Fonte Nova. Mesmo assim, existem dúvidas sobre esse tombamento em função de a cidade de Santos dizer que a música fala que a pessoa foi até a Fonte do Itororó beber água e não sobre ir beber água no dique do Tororó. Mas essa é uma outra discussão.
    Apesar de ser a favor da preservação de algumas edificações históricas, acredito que haja alguns exageros que prejudicam o desenvolvimento e a construção de edificações de melhor qualidade. Esse foi um dos motivos que desisti da pós graduação em Preservação do Patrimônio Arquitetônico.
    Em relação ao projeto da nova Fonte Nova, achei muito interessante a proposta. O desenho preservou o atual estádio, porém com um visual mais moderno. A forma de ferradura foi mantida, para que a vista ao dique permaneça. A cobertura ficou muito elegante, diferente das antigas feitas em concreto. Acho que deve ser aumentada para proteger os torcedores do anel inferior. Lembra um pouco a cobertura do estádio olímpico de Berlim, palco da final da Copa da Alemanha.
    Acho incrível alguém criticar uma edificação tão moderna para substituir outra que está literalmente caindo aos pedaços. Deve-se pensar no conforto dos torcedores que irão freqüentar o lugar e não apenas em recordações. Mas mesmo pensando em recordações, o estádio continuará sendo a Fonte Nova e terá praticamente as mesmas características arquitetônicas.
    Mas é necessário criticar um ponto. Porque existe aquela pista de atletismo no entorno do gramado? O público fica longe dos jogos. As transmissões não são iguais àquelas onde é possível se ver os torcedores. Não faz sentido. Não é necessário um estádio dessa dimensão para competições de atletismo. É só ver os jogos Panamericanos para notar que o público não vai em competições de atletismo. E ainda, não existem tantas competições de atletismo no país e, quando tem, atraem poucos torcedores.
    Na minha opinião, a arquibancada deve ser paralela ao gramado e o mais próximo possível das linhas do campo de futebol. Não deve ser em conjunto com uma pista de atletismo, pois isso apenas afasta os torcedores do gramado e, como acontece no Estádio do Pacaembu e Morumbi, por exemplo, ficam abandonadas e sem uso.
    Não sei como está o entorno do estádio, mas deve ser prevista uma estação de metrô próxima. Não precisa ser ao lado da edificação, até porque na Alemanha as estações ficam relativamente longe e precisávamos andar bastante para chegar ao destino.
    Mas acho que, com a construção dessa nova Fonte Nova, Salvador vai ser uma das grandes sedes da Copa do Mundo do Brasil em 2014, pela cidade que é, pela proximidade com a Europa, pela tradição futebolística e pelo projeto do estádio.
    Um abraço
    Marcelo.

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  6. Oi Marcelo... confesso que não sei o motivo histórico exato do dique. Mas se ele foi preservado é por esse motivo. No entanto, quando se faz um tombamento, tem limites em volta que se preservam juntos para a manutenção da paisagem. Uma mudança drástica no entorno pode modificar o bem tombado... um espelho d'água que reflete as construções em volta sem dúvida fica abalada. Enfim.. também não entro muito nessa questão. Há diversos pontos de vista sobre atuação em bens tombados e nenhum é considerado correto... é quase uma questão de opinião.. nunca agrada a todos.

    Também não entendi essa pista de atletismo oculta... só não tem as "raias" desenhadas... mas está ali o espaço. Quando é dito que não deve ter pista de atletismo subentende-se que não é para ter pela questão da proximidade e não pela úra não existência. Enfim.. preferi não comentar pois não sei se isso foi mudado.. mas como você mencionou... também deixo claro que não entendo esse espação a toa.
    Abraço

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  7. Prezada Arquiteta Lilian,
    Infelizmente existem mais coisas entre o ceu e a terra e a tendencia é a demolição da edificação atual da fonte nova. Há um processo de licitação para a demolição em andamento. Estamos lutando.

    Quanto a pista de atletismo, lembro que a fonte nova é um complexo olimpico e que ainda fazem parte o balbininho e o conjunto aquatico.

    Pela localização, o complexo fonte nova tem hoje uma atividade social muito intensa como por exemplo terceira idade, fisioterapia para deficientes carentes além é claro das escolinhas de esportes chamados olimpicos.

    Observe que o assunto é um pouco mais complexo que simplesmente fazer dois jogos da copa do mundo. Temos que harmonizar a tradição, a ação social que funciona, o custo e a modernidade (caderno de encargos da fifa) e no final sermos heptacampeões.

    muito fraternalmente
    arq. Hugo Seguchi

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  8. Bom dia, Hugo!

    Realmente, a questão não é somente a Copa (e os poucos jogos em cada estádio), mas um bom trabalho para a cidade e para o país. Como bom resultado, também proporcionará estes jogos com excelência (o mínimo, já que é o motivo pelo qual todos esses investimentos estão em desenvolvimento)

    Concordo completamente com tudo o que disse. O Dique do Tororó é tombado, e a minha preocupação seria por ele, e não pelo estádio em si - que tem um projeto bastante interessante.
    Sobre a pista de atletismo, por mais que seja um complexo esportivo, é bem claro, pela FIFA, que não é permitido, pelo simples fato de aumentar a distância e dificultar a visibilidade. O que deve ser pensado é onde o atletismo será trabalhado, já que várias devem sumir com a Copa!

    Obrigada pelo comentário.

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